O que dizer sobre este…
Estávamos no trabalho quando a meio da tarde, a Ana recebeu uma chamada da
escola a dar conta de que a Filipa se havia queixado que tinha começado a tremer
quando estava na casa de banho. Eram quase 17h e como tal pensamos que as
crises poderão ter começado por volta das 16:30.
Por se tratar de um relato da Filipa sem que ninguém tivesse presenciado
alguma coisa, em primeiro lugar ficámos com alguma dúvidas pois já não seria a
primeira vez que ela tentava simular crises para obter algo (neste caso seria
ir para casa mais cedo), mas como era já final do dia e não devemos arriscar
muito, a Ana foi à escola para a ir buscar e levou-a para o escritório.
Quando cheguei ao escritório, a Ana não havia notado nada nela e tudo
parecia perfeitamente normal, sendo que a Filipa insistia em que algo lhe havia
acontecido na escola e que estava a falar verdade.
Fomos para casa e fomos tentando ter uma conversa que levasse à necessidade
da Filipa ter que nos confirmar o sucedido, dando-lhe no entanto hipóteses para
confessar caso não fosse verdade, mas a Filipa manteve-se sempre com o mesmo
discurso de que tinha estado a tremer quando foi à casa de banho na escola.
Chegados a casa começamos a controlar os movimentos da Filipa, para que ela
não andasse pela casa sem a nossa supervisão uma vez que ela insistia que era
mesmo verdade e já tivemos más experiências com as quedas.
Entretanto era dia de irmos jantar à casa do pai da Ana e como as dúvidas
permaneciam, achámos por bem manter o jantar. Durante o tempo em que estivemos
em casa a fazer tempo até ao jantar, a Filipa adormeceu no sofá da sala.
Quando acordada para sairmos, a Filipa deu alguns sinais, que não
conseguimos identificar de que estaria a ter crises, mas mesmo assim e como não
conseguíamos identificar os sinais, continuámos a duvidar do que se estaria a
passar com ela, embora com algumas reservas uma vez que ao mesmo tempo ela
apresentava alguma palidez e prostração pouco usuais. Os sinais a que me
refiro, foram o que pareciam ser pequenos “ataques” de medo em que ela de
repente tentava esconder o rosto acompanhando o evento com um pequeno grito e
de seguida dizia-nos que tinha tremido.
No jantar, uma grande dificuldade para que comesse, mas como também os
problemas com as refeições costumam ser normais tivemos momentos de tensão e
confrontação sem ainda conseguirmos perceber o que se estaria realmente a
passar.
Fomos para casa, chateados com o comportamento evidenciado pela Filipa
durante o jantar e de pronto tentámos prepará-la para a pormos na cama para
dormir, no entanto ela voltou a dar os tais sinais mais algumas vezes e que
mesmo sem os conseguirmos entender, nos deixaram cada vez mais receosos de que
realmente algo se estaria a passar com ela.
A Ana acabou por se ir deitar com ela na cama dela, uma vez que nesta altura
estarmos os 3 a dormir na mesma cama como costumamos fazer em alturas de
crises, está a ser impossível pois a Filipa já está muito grande para
conseguirmos coabitar todos na mesma cama com as mínimas condições de repouso.
Desta vez não coloco os relatos das horas da crises que a Filipa costuma
ter, como usual, pois até àquela hora, não fizemos qualquer registo das mesmas,
por não as conseguirmos realmente identificar. Só me lembro de que ainda no
início da noite ter acordado por volta das 00:45 por ter ouvido a Filipa soltar
um grito, dirigi-me ao quarto dela mas quando lá cheguei tudo parecia calmo,
falei com a Ana mas ela disse-me que não tinha dado por nada. De manhã quando
falámos sobre o assunto a Ana nem se lembrava de ter falado comigo àquela hora
por isso colocámos a hipótese de mais alguns eventos terem acontecido sem nos
darmos conta dos mesmos. Já mais perto do início da manhã a Ana começou por
registar mais alguns eventos.
A Filipa acordou com a vontade de ir para a escola, ao que a avisámos que
não iria ser possível uma vez que estava a ter crises, mesmo assim ela
continuava com a vontade de ir, mas ao levantar-se da cama, de imediato voltou
a ter outra crise que a fez cair de volta para a cama, felizmente sem se magoar.
Desta forma percebeu que não poderia ir para a escola e deu-nos razão.
Combinei com a Ana de que eu ficaria com a Filipa em casa, mas quando a Ana
estava a prepara-se para poder sair, as crises começaram a evidenciar-se cada
vez mais, com ciclos mais violentos. Dada a última experiência que tivemos com
o tipo de crises que a Filipa teve, achámos por bem ficar os dois em casa não
fosse o caso da situação perder o controlo.
Tomámos o pequeno almoço, a Filipa entretanto foi para a sala ver
televisão, mas as crises voltaram, sendo que uma delas lhe provocou a queda do
sofá onde estava deitada, para o chão, felizmente sem consequência mais uma
vez. Para maior segurança a Ana acabou por se ir deitar com ela novamente no
quarto dela e lá permaneceram o resto da manhã.
Ao almoço tudo correu normalmente com ela a comer bem. Acabado o almoço, de
volta para o sofá com a nossa supervisão. A Filipa, coitada, sempre a querer
fazer algo, mas sempre controlada por mim ou pela Ana.
De realçar durante a tarde, o período final das crises. Terão começado por
volta das 17 e terão terminado por volta das 17:30. Crises sucessivas com
ataques de pânico e muito momentos de alucinações, em que constantemente tínhamos
que a agarrar para lhe controlar os movimentos, pois não parecia sentir-se
segura em nenhum lado e queria sempre fugir de onde estava. Após este período
(em que conseguimos evitar a administração do Stesolid) tudo parou, a
Filipa dormiu à volta de um pouco mais de uma hora e quando acordou estava
cheia de energia e de volta à normalidade.
Este episódio aconteceu 3 meses após o último e neste momento estamos
perdidos relativamente à periodicidade das crises. Temos consulta em Fevereiro
e na altura tentaremos tomar decisões em conjunto com o Dr. Nuno.
Parecem ter acabado as “tradicionais” crises em que a Filipa entrava em
convulsões não expressando qualquer outra reação. Passámos por um período de
transição em que a Filipa misturava um pouco das crises convulsivas com estas
agora em que parece consciente, mas em estado delirante. Para estas últimas em
que mal se notaram as crises convulsivas, embora estejam lá, mas onde essencialmente
está em estado alucinante provocando inúmeras situações de pânico, embora pareçam
quase sempre inconscientes, uma vez que quando questionada sobre os sentimentos
experimentados não nos consegue identificá-los. Estas últimas tornam-se bem mais complicadas de controlar, pois a Filipa está cada vez maior e com mais força e nem sempre será fácil controlar uma pessoa em pânico. Esperemos pelas próximas...